segunda-feira, 20 de março de 2017

A MINHA MENTE MORA NO PEITO

Não gosto de linhas
rectas sou disperso
sou desordem

não gosto de ter planos
o agora fascina - me

não sou normal
nem mesmo igual


sou o contrário
a face oculto do velho
armário que tu não
consegues abrir è o
existir atravesso

talvez eu seja

o seu quadro

basta querer
   ficar


A SERINIDADE

A serenidade não è feita
de troça  nem de narcisismo
è conhecimento supremo e
amor afirmação da realidade
atenção desperta junto à borda
dos grandes fundos e todos os
abismos ;


è uma virtude dos santos
e dos cavaleiros e cresce
com a idade e aproximação
da morte è o segredo da
beleza e a verdadeira
substância de toda
a arte o poeta que
 celebra na dança
dos seus  versos
as magnificências
e os terrores da vida

o músico que lhes dà
os tons de uma pura
presença  trazem - nos
a luz aumentam a alegria
e a clareza


O AMOR

o amor è um substantivo
abstracto algo nebuloso
e no entanto o amor
acaba por ser a única
 parte de nòs que è
sólida  a medida que
o mundo fica de cabeça
para baixo e os cenários

se tornam negros


VIDA

A vida de cada ser humano
è um caminho para si mesmo
o ensaio de um caminho o esboço
de uma vereda .

Sentimentos

não digas de nenhum sentimento

que è pequeno ou indigno
não vivemos de outra coisa
que dos nossos pobres
 formosos e magníficos
sentimentos e contra
cada um que cometemos
uma injustiça è uma estrela
que apagamos .






NATUREZA

NATUREZA

Um ser humano
sò cumpre o seu
 dever quando
tenta aperfeiçoar
os dotes que a
 natureza lhe deu .

OS OUTROS

Se temos a oportunidade
de tornar mais feliz e mais
serena uma mulher  um ser
humano devemos fazê - lo
 sempre

Vontade

Para que resulte o possível
deve ser tentado o impossível

Homem

Todo o humorismo sublime
começa com a renúncia de
se levar a sério a própria
pessoa




MAL

O mal surge sempre quando
o amor não è suficiente

Delicadeza

Sò è capaz de se comportar
com delicadeza quem tem
necessidade dessa delicadeza

Homem

Quem è pequeno vê no maior
apenas o que o pequeno è capaz
de perceber

Sabedoria

A sabedoria não pode ser
transmitida a sabedoria que
o sàbio tenta transmitir soa
mais a loucura


VOZ

Entre um ser humano e o outro ser
há barreiras que nunca se transpõem .
Sò sabemos seguramente de uma
amizade ou de um amor : o que
 temos pelos outros .

De que os outros nos amem
nunca poderemos estar certos .

E por isso talvez que a grande

amizade e um grande amor
são aqueles que se dão sem
se pedir que fazem e não
 esperam ser feitos ; que
são sempre a voz activa ,
 não passiva .


domingo, 19 de março de 2017

AMOR

Sem amor
por si mesmo
o amor pelos
outros

não è possível

O ódio por si mesmo

è exactamente idêntico
ao flagrante egoísmo

e no final conduz
ao mesmo isolamento

cruel e ao mesmo tempo
desespero




PÀTRIA

Pàtrias

Para mim
não existem
mais pátrias
nem ideais ;

tudo isso

não passa de pura
decoração

para os governantes
que preparam a próxima
matança


quinta-feira, 16 de março de 2017

Azulejo

Sò depois de te
beijar
uma criança
te pede
um beijo
para distinguir
a inocência
do desejo

ROSTO

nòs os de rosto demorado
como dos velhos nòs com
o peso de um deus amordaçado
sobre os ombros nòs que olhamos
as coisas e as choramos e que
somos semelhantes a uma promessa
perdida não dobraremos perante a
mais pequena pressa ,

AGUARELA

Sã mulher
Linda inocente
Criança leve
Não se oferece
Uma flor vã
A flor que và
dà - se - lhe mão
à terra seca para
semente regar
bravias raìzes únicas
a uma mulher


quarta-feira, 15 de março de 2017

VENTO

À beira rio uma criança
estava num jardim a separar
as pombas dos melros por
causa do milho a cair sob
o olhar atento das gaivotas
e o silêncio rente das andorinhas

no meio das folhas irrequietas

das árvores a criança agarrou
um papel com palavras e imagens
que a meio do vento me fugiu das
mãos

a criança pediu - me que eu fizesse
daquela página solta um avião ou
um barco , disse - lhe ; faz tu , eu
sò ajudo não sei voar , nem navegar

a criança começou a sonhar com
 habilidade e imaginação

o coração começou - se a abrir
como uma cor e a cabeça fechou
 - se como uma concha , no fim

da história apareceu a mãe a dizer
à criança não estragues o poema
que è desse senhor , respondi - lhe ;

foi o seu filho que me ensinou
a voar e a navegar por um instante ,

foi ar que se nos deu , não pertencem
a ninguém , acaso , vivacidade , sei
là , arte , não tem dono , anda por aì ,
ainda bem , amen .



TEMPO ( NÒS )

Nòs temos pressa
queremos ter aquilo
que nos irà fazer
felizes o mais
urgentemente
possível ... mas
a vida não tem ..


a nossa vida segue
no seu próprio tempo

as coisas acontecem
no seu  determinado
tempo ... enquanto
não chegar aquilo
que tu julgas que
te fará feliz ,

seja feliz com aquilo
que tens e acredita
que a felicidade
pode ser todos
os dias ... e que

essa felicidade
tão desejada ,
tão esperada
chegarà na hora
em que deva chegar !


Eu Te Amo

Amor

Sopro fino de vento
a rigor levando areia
ao rosto hirto

Um deserto húmido
no olhar

um dedo apontado ao mito
a beleza do silêncio no grito
cada ilha um livro um filho
parido hábil febre a mar

dedos de marfim por escrito
passo a passo a màgoa  barco
 a pele tecida a mãe

a mão   ao leme carícia forte
o instinto para a revolução
de dar a um coral um nome

( là terão caule e cal tão secretas razões )
não deixa cinza para deitar sobre as ilhas
mas luz apenas luz por onde podemos
andar a entrar e sair de pátios fechados
sobre si abertos às casas causas que a
 pedra a palavra

Sílaba sobre a raiz o seu  mundo
constrói e sem medo por dentro
da nossa paz fugaz abre a liberdade
aos templos sem orações dos deuses
faz homens das musas mulheres de
templos apenas um lugar onde o
tempo devagar põe na natureza
um amor fugaz .


  

O QUE TEMO EM TI

O que temo
em ti não são
as palavras
è o desleixo
com que derramas
a penumbra a lassidez
com que abrigas o silêncio


com que partes
sem deixar


Mesa

Centro rigoroso
da sala vazia
equilibro da penumbra .

De ti erguem - se quatro
colunas e sobre elas o
peso exacto do tecto
com a mais perfeita
balança como um
templo .

Antes de entrar na sala
e abrir as janelas para
olhar - te ajoelho - me
e sò resigno ès semelhante
a justiça .


A Sombra da Morte

A SOMBRA DA MORTE

A cabeça ficava marcada
invisível , mas quando
me deitava de costas na
escuridão , sentia uma
queimadura na têmporas ,
a crosta a ferver por baixo ,

da nuca a testa interpretava - a
como uma cicatriz que me
acompanharia atè a morte ,

o emblema de guerra assombrosa
de que jà esquecera os pormenores
e o sentido

estava ali , ficava ali para sempre ,
confundia - se inson -  davelmente
com o destino  no entanto
essa marca garantia  que eu
era livre , que fundava nela
       ( ... )

o meu destino seria dai em
diante irreduzível  , não
me sujeitava a nenhuma
regra ( ... ) porque o
prestigio da poesia
è menos ela não
acabar do que
 propriamente
começar ( ... )
vivemos
demonia camente
toda a nossa inocência





Praia

Praia

primeiro o cristalino
das coisas
dos gestos
dos gritos abafados

depois o tempo de recordar

mais ao longe onde
poisa a liberdade
o melhor do mundo
que ali parece estar
mais não deixa ver
o mar

Será talvez a própria
vida ?

Esse mar complexo
sem limites repletos
de destroços a deriva
transbordantes de azuis
e verdes caprichos
violentos extremamente
transparentes


Opor - me a um ponto

opor - me a um ponto
è limitar - me
o canto que è a asa
no tempo e a sua estrada
está para além da estrada

rodear - me do silêncio
è forçar - me ao encontro

os sinos do tempo
desgarram música
que me despertam
paisagens desertas

fosse - me estrada
e tempo em que
 me agito linha
trampolim para
o infinito .