Quem foi que despenteou
o teu cabelo , Ò minha amada ?
Que cálido olor ou ventos pôs erectos
teus seios os bicos roxos ?
Com que sopro ? com que sémen
te fecundei ? ò clara , brava
companheira que jamais a meu lado
temeste precipício ou sombras :
là no fundo dos teus mares
que pequeníssimas mãos
se agitam ? que navio irrompe
do teu sexo vindo dos confins
da oceânica noite com marinheiros
de todas as raças trepados nos mastros ?
Que súbita aurora deflagra
à nossa volta ? Que gritos
de revolta e dor e triunfo
se desfraldam nos ares
surpreendidos ?
Eia companheira , è o teu filho
que chega ! São as mais poderosas forças
do mundo abrindo entre sangue e dor sua
torrente indomável :
è a primavera que canta
nos nossos troncos mortos ,
è o rebentar das folhas e ramos
e olhos e mãos dos gomos secos :
são os gritos dos gaios com cio
nos montes de todos abertos
e as searas de braços que nascem
nos campos despovoados :
são fontes e mares que rebentam
e homens de rostos sereno
que reerguer as cidades :
são mastros e velas que nascem
e olhos e mãos de cascos podres
dos nossos barcos submersos ,
e são homens audazes e belos
crescendo ao leme e à proa :
è a primavera mais bela
das idades , que chega
com arados e asas e iras
jamais suspeitas
para acordar a força
que dorme nos corações
parados :
È o Homem despindo raios
das pontas dos dedos ,
vento do Norte , vento do Sul ,
homens e mulheres soprando
das trinta e duas pontas
da rosa dos ventos !
Sem comentários:
Enviar um comentário