terça-feira, 8 de novembro de 2016

O POETA NO TEMPO

O POETA NO TEMPO

Amanhã viajarei no tempo :
Viajarei nos ventos , os dedos esguios .

Viajarei no pó , nas nuvens , nos caminhos
das águas ; retornarei às fontes , serei ( de novo ? )
a semente oculta que espera o tempo
de ser ave .


Passarei  por baixo , por dentro , por cima
dos móveis , das casas , dos ramos , dos
telhados ; viajarei no raio de luz que nasce
naquela estrela onde toca o meu dedo erecto .

Deixarei a minha casa , a minha rua , a minha
família , os meus amigos e inimigos , que
seguirão o seu caminho e um momento me
 olharão estáticos a minha partida como se ela
fosse talvez inesperada ; deixarei a minha face ,
os meus versos e este desejo de vê - los ainda
um dia dar espigas .

Viajarei de graça , para quê tirar bilhete ? ,
não haverá mas legalidades ou ilegalidades .
Diluído fluir , a lei  .

Viajarei no estribo do tempo ; sob
as suas asas
eternas , absolutas .

Ignorarei as horas ( esquecerei )
as horas : não mais haverá domingos
nem segundas - feiras ; abolirei o calendário .

Faltarei ao trabalho , pouco me importará
ser despedido .

Desertarei do quartel ; não mais cravarei
rebites nas chapas dos navios que nunca
me levaram a parte nenhuma , irei nas
águas do tempo : assíduo e inviolável .
Na curva de onda no éter , ai estarei .




Sem comentários:

Enviar um comentário