quarta-feira, 2 de novembro de 2016

AQUELE RIO

Aquele rio
jamais se abre aos peixes
ao brilho a inquietação
de faca que há nos peixes
jamais se abre em peixes .

Abre - se em  flores
pobres e negras

como negros

abre - se numa flora
suja e mais mendiga
como são os mendigos
negros

abre - se em mangues
de folhas duras e Crespo
como um  negro

liso como um ventre
de uma cadela fecunda

o rio cresce
sem nunca explodir
invertebrado

tem , o rio ,
um parto fluente e como
o da cadela

e jamais o vi ferver
( como ferve o pão que fermenta )
em silêncio

o rio carrega a sua fecundidade
pobre , grávido da terra negra
em silêncio se dà :

em capas de terra negra :
em botinas ou luvas de terra
negra para o pè ou a mão
que mergulha

como às vezes
passa com o cães

parecia o rio estagnar - se
suas águas fluíam então
mais densas e mornas ;
fluíam com as ondas
densas e mornas de uma cobra .




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